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A história do oxigênio – amigo ou inimigo

É fundamental entender o papel dos radicais livres, apesar do nome ser incompleto e nem todo radical livre ser derivado do oxigênio, mas sempre chama a atenção o fato do oxigênio, uma molécula fundamental à vida seja ao mesmo tempo nociva e danosa, sendo a base molecular para todas as doenças, desde o embranquecimento dos cabelos ao câncer, passando pela infertilidade, diabete mélito até a esquizofrenia. Na verdade, essa vida baseada no oxigênio presente na existência de praticamente todos os animais, incluindo os humanos, exceto por diversos tipos de bactérias e por animais marinhos que usam outras fontes de energia. A história do oxigênio no planeta Terra é fascinante e explica a radicalidade dessa molecular.

A Terra tem cerca de 4,5 bilhões de existência; na verdade esse primeiro planeta Terra não existe da mesma forma pois, com cerca de 450 milhões de anos ele chocou-se com um protoplaneta do tamanho de Marte chamado Thera, fundindo-se a ele e levando a formação de um generoso núcleo de ferro, fundamental pela nossa generosa magnetosfera, primeira barreira contra os raios cósmicos (a segunda é a camada de ozônio, uma forma diferente de oxigênio) e levando a formação da Lua, importante por estabilizar o eixo da Terra. Esses dois aspectos são fundamentais para o desenvolvimento de vida macroscópica fora dos mares.

Esse segundo planeta Terra é onde habitamos. Com toda energia causada por esse choque literalmente astronômico, o calor provocado deve ter esterilizado totalmente o nosso planeta, se por acaso já houvesse alguma forma inicial de vida. Até esfriar foi mais 500 milhões ou mais anos. Até hoje não se sabe quando a vida surgiu exatamente, mas foi logo que as condições permitiram, começando por formas muito primitivas de bactérias, incluindo as cianobactérias. Esse mundo existiu numa era denominada de Proterozoica (literalmente forma de vida antiga), seria irreconhecível, pois não havia oxigênio, muito menos formas dependentes dele, nem camada de ozônio, levando a penetração de grande quantidade da radiação ultravioleta, um dos espectros de raios cósmicos não filtrados pela magnetosfera, esterilizando a superfície do planeta. Por isso a vida surgiu na água. Com isso predominavam gases como dióxido de carbono, vapor de água, amoníaco, metano e óxidos de enxofre. Ela era aproximadamente 100 vezes mais densa do que a atmosfera atual. (“Atmosfera da Terra – Wikipédia, a enciclopédia livre”) Como existia muito de dióxido de carbono, um primitivo “efeito estufa” impediu a terra de congelar e ser muito mais quente que atualmente e dava uma coloração amarelada ao céu. Seria como hoje é o Planeta Vênus. Sabe-se que a vida começa assim que houver uma pequena oportunidade. Essa primeiras formas de vida eram animais, não vegetais como muitos pensam, do grupo das bactérias, em especial as cianobactérias, existente até hoje na costa da Austrália formando colônias denominadas de estromatólitos. Essas bactérias proliferam em águas rasas pois foram elas as pioneiras num processo ligado às plantas – a fotossíntese. Por isso elas prosperavam em águas rasas, necessárias para a absorção dos raios ultravioletas e, com isso, produzir gás oxigênio como subproduto. Esse gás oxigênio se acumulou na atmosfera, inundando a atmosfera e provocou grandes mudanças no planeta, como a formação da camada de ozônio e a extinção de muitos microrganismos que não toleravam o oxigênio. Portanto, as cianobactérias tiveram um papel fundamental na primeira extinção em massa da história e na origem da vida mais complexa que conhecemos hoje. As bactérias que não toleram oxigênio foram extintas da superfície da Terra, mas não desapareceram totalmente, apenas mudando de habitat, passando a prosperar em águas profundas, fundo de lagos, enterradas no solo e, por incrível que pareça, no nosso trato gastrointestinal, onde são denominados de micro-organismos anaeróbios.

O oxigênio é vital no processo de respiração celular para produção de energia dentro da mitocôndria no processo famoso conhecido como ciclo de Krebs. É uma substância altamente reativa, sendo um forte oxidante que facilmente forma compostos com a maioria doutros elementos, principalmente óxidos. A oxidação nos metais leva a formação da ferrugem e o mundo literalmente enferrujou, formando grandes depósitos superficiais de óxido de ferro, formando a terra vermelha. Essa reatividade e ligação forte com diversos elemento traz essa característica tipo faca de dois gumes, de amigo ou inimigo, dependendo das situações. Ao mesmo tempo que causou uma extinção em massa, proporcionou a evolução de formas macroscópicas cada vez mais complexas e fora da água, incluindo as plantas. Essa radicalidade deve ser vista funcionando nos dois polos, bem ou mal, características originadas na visão dicotômica cara ao seres humanos, mas sem sentido no mundo químico. 

Mas deixa uma grande mensagem: tudo que é bom em excesso prejudica e mesmo um mal profundo ensina grandes lições.

29 de outubro – Dia Internacional da Psoríase

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